«No meu cansaço voltei a sentir o precipitar-se da agitação. Tenho de a reprimir. Reprimindo-a acharei maneira de sair.
Narro circunstanciadamente o que me aconteceu: voltei-me e caminhei com os olhos baixos. Ao olhar a parede tive a sensação de me encontrar desorientado. Procurei o buraco que tinha aberto na parede. Não estava lá.
Ao narrar circunstanciadamente esta acção, repeti-a. Espero não repetir o seu final.
Os horrores do dia ficaram escritos no meu diário. Escrevi muito: parece-me inútil procurar inevitáveis analogias com os moribundos que fazem projectos de vastos futuros ou que vêem, no instante de afogar-se, uma minuciosa imagem da sua vida. O momento final deve ser agitado, confuso; estamos sempre tão longe que não podemos imaginar as sombras que vêm perturbá-lo. Agora deixarei de escrever para me dedicar, serenamente, a descobrir a forma de parar estes motores.»
[Adolfo Bioy Casares, A invenção de Morel; trad. Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá, Antígona, Janeiro 2003;
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1 comentário:
http://www.youtube.com/watch?v=tK4QtUNMWPo
(quando é só links não precisas de publicar o comentário; hasta lo próximo link eheh)
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