«Não devo permitir-me esperanças. Escrevo-o, e surge-me uma ideia que é uma esperança. Não creio ter insultado a mulher, mas talvez um desagravo fosse oportuno. Que faz um homem em ocasiões dessas? Manda flores. Trata-se de um projecto ridículo… mas até as banalidades, quando são humildes, podem governar por completo o coração. Na ilha há muitas flores. Quando cá cheguei havia alguns maciços à volta da piscina e do museu. Poderei com certeza fazer um jardinzito no prado que ladeia os rochedos. Talvez a natureza me possa servir para conquistar a intimidade de uma mulher. Talvez me sirva para acabar com o silêncio e as cautelas. Será este o meu último recurso poético. Nunca tentei combinar as cores; não percebo quase nada de pintura… Contudo espero poder fazer um trabalho modesto, denotando gosto pela jardinagem.»
[Adolfo Bioy Casares, A invenção de Morel; trad. Miguel Serras Pereira e Maria Teresa Sá, Antígona, Janeiro 2003]
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