Insinuando-se, sorrateira, o Algarve passou a significar condução, depois da viagem; eu gosto é de viajar. Quando o destino deixou de ser a «casa de ninguém», com o tejadilho do carro a servir de tabuleiro para as cagadas das gaivotas e outros voláteis – praia e mercado a dois passos, lentos –, passei anos a ir a Portimão duas vezes por dia; pelo menos. Entretanto, como não é de ninguém, a utilização da casa de Armação delegou a manutenção no que viesse a seguir, que, por sua vez, a delegava no seguinte, e assim sucessivamente, até ao abandono por inabitável. Previ-lhe sempre a sorte de ser um segundo andar, para agonizar a meio do prédio, onde será encontrada sozinha no chão do desmazelo; com o carro à porta. Quando o Herberto pergunta, «E o que é o Outono?», não há meio de se convencerem de que a poesia não é uma estação do ano; e eu vou estender a roupa, antes que chova.
20 de janeiro de 2011
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4 comentários:
"a poesia não é uma estação do ano"
eia, que grande sorriso nesta cara!
[há dias tive uma espécie de sonho-acordada,
uma espécie porque era mesmo isso, não sonhava acordada nem estava a dormir
num instante estava junto a um pardalito que voou para a janela de quarto do Hospital do meu pai, e ali se deixou ficar saltitanto
enfim, a gaivota fez-me lembrar... foi bonito]
bem, as vírgulas, o hospital não é do meu pai :D
Há textos que nos fazem entrar nas palavras, como se a cambada de células e átomos e essa gente que compõe as nossas pernas e braços e quejandos, se espraiasse nos verbos e nos substantivos, como se fizéssemos parte deles. Costumo sentir isso nos textos de Âncoras e Nefelibatas (http://ancorasenefelibatas.wordpress.com/) e sinto o mesmo aqui.
margarete, mal tu imaginas que costumo tomar o pequeno-almoço com um pardal que se empoleira na cadeira em frente e faz as suas exigências
percebi as vírgulas «do hospital» e desejo-te/lhe um bom ponto final
Areia às Ondas (o nick já é uma viagem) também costumo folhear o blog que mencionou
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