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Nada vejo, aqui sentada diante da mesa redonda do café, e no entanto essas coisas longínquas, como os barcos passando, o movimento dos barcos, fazem parte deste minuto, em que tudo está contido. Rodo a colher no gelado, levo-a devagar à boca. Creme vermelho, de groselha, derretendo. Sabor de Verão. Mais alto, contra o céu, balançarão as acácias. O que penso não tem nitidez, é talvez só uma precisão inexacta. A vida cabe numa colher de gelado, respira-se, devora-se com a boca.
Tudo acontece agora muito devagar, os barcos têm todo o tempo para partir ou para entrar no porto, as crianças riem, de puro prazer de brincar nas ondas. Devagar, devagar. O tempo é um hálito, um sopro.»
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