«No dia seguinte, depois do almoço, Shuyu entrou no quarto dele com um exemplar do jornal do condado, Obras do Campo, que na altura não passava ainda de meia dúzia de páginas manuscritas e mimeografadas.
Lin pegou no jornal e começou a folheá-lo. Na página três encontrou um artigo sobre a tentativa de divórcio. Dizia o seguinte:
Ontem à tarde, o Tribunal do Condado rejeitou um pedido de divórcio. Lin Kong, um médico do exército de Muji de 18.º posto, solicitou o divórcio ao tribunal, alegando que ele e a mulher, Shuyu Liu, já não se amavam. Mas Shuyu insistiu que se sentia ainda ligada ao marido por sentimentos profundos. Centenas de pessoas que apoiavam a mulher reuniram-se junto ao tribunal, criticando o marido pela inconstância dos seus sentimentos e exigindo que as autoridades protegessem os interesses da esposa. O experiente juiz, camarada Jianping Zhou, repreendeu Lin Kong e lembrou-lhe que era um oficial revolucionário e filho de um camponês pobre, dizendo-lhe: “Esqueceste a tua classe de origem e tentaste imitar o estilo de vida da classe exploradora. O tribunal aconselha-te a corrigires os teus erros, caso contrário, cairás irremediavelmente no abismo da desgraça.”
Todos se sentiram aliviados ao saber que Lin Kong e Shuyu Liu continuavam legitimamente casados no momento em que abandonaram o tribunal. Algumas pessoas aplaudiram.»
[Ha Jin, À espera; trad. Rui Pires Cabral, Gradiva, Agosto 2000]
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