«Entraram no terreiro em passo de corrida vagaroso e ritmado, com o gado pacato e ruminante a erguer as cabeças, de olhar atento, os animais a esquivarem-se, remirando-os de soslaio ao vê-los passar, sem que os três prestassem qualquer atenção, como que cegos pela força do seu desígnio, e foi então que atravessaram um bafo etéreo a pimenta-d’água e a amónia cediça ressumando do galinheiro cujos contornos o sol intenso esbatia e transpuseram as portas abertas do estábulo e quase de imediato saíram pelo lado oposto maravilhosamente apetrechados com toscas armas agrícolas, pá e podão, emergindo numa explosão de galinhas-da-índia e ainda uma porca a soltar altos grunhidos, imperturbáveis na cadência da passada, no porte e na rapidez, figuras paródicas transpostas do seio de um mural proletário, vivas e intactas e violentas, lançadas em movimento sobre os campos desertos, avançando contra o pano de fundo do crepúsculo, do zumbido das abelhas e do trevo vergado pelo vento.»
[Cormac McCarthy, Nas Trevas Exteriores; trad. Paulo Faria, Relógio D’Água, Junho 2011;
folha de trevo]
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