«Vestia um fato informe e poeirento de linho negro que lhe ficava apertado e tinha a barba e o cabelo compridos e negros e revoltos. Não trazia camisa nem colarinho, e os pés nus assomavam das biqueiras de um par de chancas confeccionadas à mão. Nada disse. Eles abriram alas para o deixar passar até que ele chegou junto da carroça e ali estacou, a contemplar o homem estendido na traseira do veículo. Os outros esperaram, uma amálgama de rostos graves. Ele voltou-se devagar e olhou em roda de si. É o velho Salter, disse um. Morto. Mataram-no que nem um cão. Ele fez que sim com a cabeça. Muito bem, disse. Vamos mas é encontrar o homem que fez isto. E ao clarão dos archotes nenhuma parcela do seu rosto era visível, exceptuando os olhos como ágatas negras, nada havia na sua barba ou no seu fato suficientemente acetinado para reflectir a luz e nada havia na sua figura desajeitada e suja de poeira, à parte a corpulência, que fosse motivo bastante para aqueles cidadãos o seguirem pela estrada fora naquela noite.
Ao alvorecer fresco e fumegante, num campo na orla da povoação, pendiam de um viburno os corpos de dois trabalhadores sazonais do moinho. Rodavam vagarosamente, ora da esquerda para a direita, ora em sentido contrário. Como sentinelas encarregadas de uma qualquer vigia. Isso e o vago adejar do cabelo de ambos sob a brisa matinal era o único movimento que neles se notava.»
[Cormac McCarthy, Nas Trevas Exteriores; trad. Paulo Faria, Relógio D’Água, Junho 2011;
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