«Ele inclui-a nos favoritos do seu blogue, e ela imitou-o. O blogue de Pabst tinha fundo verde e preto; as letras dos posts eram de cores diversas combinadas em tipografia helvética. Cultivava uma serena nostalgia dos anos 90, a década que assistira ao seu desenvolvimento e o vira deixar de ser um anão rechonchudo para se transformar num indivíduo proporcionado carente de qualquer beleza e vitalidade. No seu blogue havia referências a todos os discos e cantores de que sempre fugira nos décimos quintos aniversários das raparigas proibidas: Milli Vanilli, Jazzy Mel, Ace of Base, Tchnotronic, eram as bandas sonoras pelas quais navegam as carinhas incorruptas de Flor G, Caro T, Maru Z. Enquanto as ouvia, batia punhetas de humilhação, um petisco recentemente descoberto e assaz excitante.
No blogue dele tinha uma lista atualizada de recursos para partilhar software pirata e uma interessante coleção de pornografia macabra. Não porque os seus interesses acalentassem com idêntica fruição a guerrilha informática ou o abuso sistemático de mulheres grávidas, mas porque a sua mente contaminada de obsessões próprias de uma autoestima incorrigível compreendera que o regime de acesso à empatia contemporânea se acha vinculado ao uso inteligente, glamoroso, da crueldade.
Nos anos 70, pelo contrário, não havia como ser pioroso. Podias bradar aos quatro ventos que o teu objectivo na vida era ser poeta maldito, que ninguém se ria na tua cara. Agora é diferente. O sentido estético da nossa faixa etária evoluiu.»
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