«Cris, a mãe de Mara, ainda é muito bonita, e decidiu nunca mais voltar a casas. Prefere ter namorados “com cama fora”, como não se cansa de repetir, convencida de que esta expressão ainda está na moda. Mara perdeu a virgindade aos dezasseis anos, uns meses depois de escrever aquele poema, com um dos amigos da mãe. Chorar deixava-a muito sensibilizada, e no termo daquelas sessões de culpa histórica e visões de besteiras a esborracharem jugulares de raparigas belas, sentia um prazer irreconhecível quando se prostrava muda, de olhos fechados, deixando que umas manápulas lhe tirassem devagarinho aquilo que nas traduções galegas de Henry Miller que ela lia se chamavam “bragas”. Depois começou a andar com dois punks. Durante todo esse tempo, debaixo desses homens, às vezes Mara lamentava não ter nascido no momento certo, ter-se perdido numa voragem deslumbrante de valor e sensualidade, porque, conforme ditavam as suas imagens – envolta em sussurros, baba e estertores, marcando com risquinhos as suas primeiras aproximações a um orgasmo –, não devia haver nada mais belo neste mundo que trabalhar pela Justiça e foder pela Pátria.
Que é, precisamente, o que eu andava a fazer e pretendo fazer ainda mais.»
[Pola Oloixarac, As Teorias Selvagens; trad. Margarida Amaro Acosta, Quetzal, 2011]
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