20 de maio de 2010

Nem sempre a lápis (29)

Quando apaguei as luzes da sala para me deitar, deixei-me fiquei a olhar para o candeeiro very british – «verde land-rover» também não lhe assenta nada mal – que trouxe a primeira vez que fui ao Sul. Esqueci-me dele aceso e, no meio da escuridão que seria de esperar, vi-o adaptar-se à nova realidade do espaço a que pertenceu sempre; por muito campo que lhe desse a condizer com o abat-jour Laura Ashley, creio eu. Foi uma etapa bem divertida, há uns vinte e tal anos; é certo que não iluminava nada a área de trabalho anichada na estante, mas gostava de o ver aceso e, se possível, só ele. Mergulhados no conforto cálido da penumbra, retomámo-nos com um sorriso esquecido: ele, a apreciar os cartões que pintei, talvez enquanto nos esperávamos; eu, a salivar por uma aviadora para ler ao lado dele e levantar os olhos e ver os cartões e ver as pedras espalhadas na marquise, ver só. Mas não está bom para Cioran; intimidada a generosidade do mês, a luz de que disponho só me concede tempo para ler Terzani e McCarthy, por enquanto.

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