22 de maio de 2010

Nem sempre a lápis (31)

Esta manhã, bastante apreensivo com o esforço das plantas para se agarrarem ao Sol fingido que entra pela janela da cozinha, trouxe-as para a marquise antes que danifiquem mais a coluna; as vértebras por onde se ramificam. Devolvi-as ao território que lhes pertence – fechada, mas varanda – sem pretender transformá-las em plantas de companhia; ainda não cheguei a tanto. Mas a verdade, é que me tenho apanhado a olhá-las, levantado o olhar do trabalho atraído pela surpresa da cor vegetal dada sobre o soalho de árvores abatidas; súbito oásis brotado por entre pedras de praias. Contaminado pela tradução de Hernández, é possível que não a acabe sem lhes inventar um nome; a acreditar que me pretendem dizer qualquer coisa quando a brisa lhes agita os pés raquíticos; a responder aos sons e palavras que lhes digo, em segredo, e desconhecem que escrevi.

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