17 de junho de 2012

Papiro do dia (230)

«A porteira, antes de ser porteira, vendera bebidas no campo das corridas de Paris. A vida dela era na pelouse, mas não perdia de vista a gente da pesage, e muito se orgulhava de me dizer quais das minhas visitas eram bem educadas, quais eram de boas famílias, quais eram sportsmen, palavra francesa pronunciada com o acento em men. O único inconveniente era que as pessoas que não cabiam em qualquer destas três categorias arriscavam-se a ouvir que não havia ninguém em casa de Barnes. Um dos meus amigos, um pintor de aspecto extremamente subalimentado, que, òbviamente, para Madame Duzinell não era bem educado, nem de boas famílias, nem sportsmen, chegou a escrever-me uma carta a pedir que lhe arranjasse um passe válido para a porteira, a fim de conseguir subir e ver-me, às vezes, à noite.»


[Ernest Hemingway, Fiesta; trad. Jorge de Sena, Livros RTP, Lisboa 1972;
vão de escada]

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