23 de junho de 2012

Papiro do dia (232)

«Foi então que ela lhe tocou no braço, como que sem querer e por acaso. Corou e pensou: “Ele sabe que o quero.” Também ele corou. Ela pensou então para si: “Excelente homem! Respeita-me. É um cavalheiro.” Aos seus olhos, ele era cada vez mais belo, e cada vez mais força, mais orgulho e delicadeza rodeavam a sua figura. Ela pensou: “Amo-o. É verdade que não devia amá-lo, pois sou casada. Mas amo-o ainda assim.” Com os olhos deu-lhe a entender que o amava, e ele era atento, arguto e inteligente o bastante para perceber o que ela queria dizer, o que ela sentia e o que ela desejava. E agora começava o romance. Se em vez de um autor, eu fosse uma autora, escrevia já a seguir e de um jacto dois volumes inteiros.»
[Robert Walser, Histórias de Amor; trad. Isabel Castro Silva, Relógio d’Água, Abril 2008;
pelo menos]