À revelia – ou melhor – manifestando um profundo desprezo pela recente boutade do crítico literário que mais anima a bloga, a desavergonhada Academia sueca atribuiu o Nobel da Literatura a Alice Munro, escritora canadiana que já anunciou ter batido com a porta da mesma. Da literatura, entendamo-nos. A notícia colheu-me, sem surpresa, ao balcão do livreiro que a semana passada me conseguiu Amada Vida. Curiosamente – ou melhor – como vai sendo hábito, a escritora laureada passa ao lado e ao largo da pretensa secreta shortlist especulada por Eduardo Pitta, onde o delírio colonialista o leva a especificar que é integrada pelo israelita Amos Oz e o judeu-húngaro Imre Kertész.
Faz-me lembrar os dois fdp (aka filhos do Porto) que se encontram e um pergunta ao outro se vai às Antas. Responde que não, que vai ver «Os Colhões de Navarone». Ao que o outro emenda: «Ó pá, não são colhões, são canhões». «Ó caralho, então bamos às Antas». Pim!, acrescento eu.
Por motivos que não vêm agora à baila, entrei na única livraria de Portimão firmemente determinado a interromper Amada Vida, precisamente no conto intitulado “Orgulho” para, com justificado sentimento, me entregar ao prazer da escrita de Teolinda Gersão. Deixado o mais recente título, As águas livres, ao cuidado de uma leitora n’A cidade de Ulisses, encontrava-me na disposição de apanhar qualquer título da minha vizinha «da biblioteca do Mondego», embora não nos tenhamos cruzado na Fortaleza de Armação de Pêra – tudo o leva a crer, seja a imaginação tão livre como as águas.
Havia A árvore das palavras, no formato desejado (20 x 14) e não a aberrante paginação de As águas livres que Teolinda Gersão não merece. Abram o livro e vejam; ler, só a magia da escrita nos prende. Tivesse eu o livro à mão e ilustrava a minha indignação com uma das cento e tal páginas. E atenção para com a floresta também não colhe: arrisco que o tamanho e tipo de letra são muito próximos de O silêncio e deste «retrato de Lourenço Marques, antes da guerra colonial e já depois do seu começo.» – Lê-se na contracapa: – «É um livro sobre o fascínio de África e da cultura africana (…) Um livro mágico sobre a infância, à qual não se pode voltar, a não ser através do milagre da literatura.»
Alice Munro ganhou o Nobel da Literatura 2013, muito bem; e eu esta noite começo a ler A árvore das palavras, enquanto aguardo os títulos que não tenho de Teolinda Gersão e a fazer figas para os conseguir no formato que a respeite.
Não sei se me fiz entender, ou se terei de ir às Antas.
6 comentários:
Foste linkado no caradelivro. Agora, amanha-te. :)
Não me empenes a lombada :)
nunca! :)
Gente sem papas na língua, a do Porto. :-)
De Teolinda Gersão, li «O Silêncio», um belíssimo livro.
Eu sei, Carlos,
aliás foi ao ler o seu post sobre «O Silêncio» que decidi quebrá-lo e começar a devorá-la
http://nemsemprealapis.blogspot.pt/2012/10/papiro-do-dia-271.html
Abraço e volte a mandar a direcção, não sei o que lhe fiz ;)
Na altura, o seu post escapou-me. Respondo agora; de nada, é um prazer partilhar.
Abraço (a direcção segue por e-mail :-)
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