«À beira do mar havia uma árvore velha, coberta de pássaros que se acomodavam para passar a noite. Milhares de pássaros, vestindo a árvore como folhas, muito juntos ao lado uns dos outros, sem se deixarem perturbar pela luz dos candeeiros da rua que iluminavam com intensidade algumas zonas. Por vezes um dos ramos oscilava no vento e os pássaros balançavam adormecidos, por vezes um deles acordava e começava a esvoaçar, procurando lugar noutro ramo mais acima. Pequenos pássaros como sombras, na árvore que dormia.
Os corpos exibiam-se na praia. Bronzeados, jovens, alegres.
O corpo humano como a mais bela criação da natureza. Nada é mais perfeito.
Atravessou a vila depois do jantar, à hora do passeio pelas avenidas. Passou em frente dos cafés e dos quiosques, das gelatarias e das lojas de artesanato, das tabacarias e das tendas de feirantes, sempre à beira do mar, até à esplanada da Fortaleza, onde se entrava através de um arco, e até à capela de onde, todos os anos, saía a procissão do santo, num certo domingo do verão.»
[Teolinda Gersão, As águas livres; Sextante, Abril 2013;
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