11 de janeiro de 2014

Nem sempre a lápis (477)

Memória descritiva
Medo
Durante anos, acreditei que o sono mata.
E como o sono me estimulasse a vontade de morrer, raras foram as noites em que não estreei uma morte nova.
Com a prática, aprendi a prolongar a morte, adiando a agonia do despertar.
Para minha surpresa, ou decepção, a manhã confrontava-me com a extensão da empresa.
Vítima e espectador da minha vítima, acabei por vulgarizar a morte, com prejuízo do repouso que o sono me exigia.
Hoje durmo com uma facilidade espantosa e, raramente, me lembro de adormecer.
Ou sonhar.
Sem que eu ou a morte tenhamos assinado qualquer espécie de tréguas.

3 comentários:

Cristina Torrão disse...

Penso que herdei do meu pai um certo medo de adormecer. Ele sempre teve medo, daí as insónias. Comigo não é tão mau, vá lá...

fallorca disse...

Com o tempo passa

Cristina Torrão disse...

Já melhorou muito, sim :)