24 de abril de 2010

À mão de ler (7)

«Desventrado de musgo e de caruma, o túmulo lateja com paciência de animal antigo. Há sempre qualquer coisa de mentira nas nossas rezas. Em que tempos falamos dos mortos? Temos de guardar memória do voo da sua voz e extinguir-nos no seu eco.
Apodrecem as maçãs sobre a mesa, esquecidas pelo seu deus, as maçãs, que apodrecem. O silêncio fende as mãos indefesas que fazem inventário dum corpo. Em cada lugar secreto palpitam os sinais da evidência. Foi um longo caminho abraçando o veneno da fadiga, serenamente por cidades indecisas, atrás da pegada de lugares chegados dum outro horizonte. Resta-nos dentro de cada olho um sol que não ensombra, a dimensão mais verdadeira dum deserto.»
[Antoni Xumet, Antologia de Poesia das Ilhas Baleares; trad. Ana Sofia Guerreiro Henrique e Anna Cortils Munné]

Sem comentários: