28 de abril de 2010

Nem sempre a lápis (13)

Há um canto privilegiado da esplanada do Clube Naval de Portimão que se abre numa visão de 360º, aproximadamente: o museu instalado na Fábrica de Conservas La Rose, nas minhas costas; o que ainda resta do Convento de S. Francisco, à minha direita; o porto e a orla de telhados acocorados aos pés da igreja de Ferragudo, na margem oposta. Continuando a espreguiçar a vista até vir a sopa, segue-se um sem-fim de chaminés de outras fábricas – derivados de alfarroba, padarias, cerâmicas – irreconhecíveis ao património colectivo, mas todas elas coroadas pela salgalhada de ramos, condomínio das cegonhas; altivas. A hipnótica sobreposição dos estudos de cor para destacar as duas pontes de ferro – uma, reaberta ao trânsito e aos pescadores noctívagos; a outra, para a circulação do charuto, alcunha rural do comboio a vapor – não consegue disfarçar a contorção dos cerros que se elevam até Monchique, calhando aos mais corajosos o troféu do pico da Fóia. Implantada no centro visual do conjunto, a estrutura náutica do Clube é reafirmada pelos robustos mastros de ferro a servirem de guias dos cabos de aço que mantêm bem esticada a vela latina, deitada; uma harpa.

Passei aqui gratas tardes anotadas nos Blues, atendidas pela cumplicidade de outro empregado; mas seria numa esplanada em Santa Luzia que me senti «a apanhar Sol», sem o saber. Sem o barulho cavo do «vaivém para a ilha», com os barcos atracados no porto de pesca, as favas à algarvia prudentemente reservadas para o jantar. E depois, e depois que venha o galo de cabidela no restaurante da sociedade (verificar o nome) ou não estivéssemos na semana da Páscoa; sem missa. De tanto ouvir espanhol nos últimos dias, deixei de trabalhar; traduzo-me.

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