24 de abril de 2010

Nem sempre a lápis (9)

Mergulhado na penumbra coada pelas janelas opostas – o Norte e o Sul, o mar e a serra –, os meus passos abalam pela areia, pelas dunas; feito o luto. Sento-me no aconchego das rochas, depois do rio. Ocorre-me uma bonita foto de John Berger, ainda não o conhecia, tomada de cima a escrever, a desenhar num bloco. Escrevi na areia sempre mais com o olhar; a última vez que o fiz num bloco, foi nos degraus de outras rochas; descobria-me Longe do Mundo.

«Então por cá, menino?», recebeu-me a pendurar as cortinas lavadas ou a tirá-las para lavar, equilibrada com um pé no parapeito da janela. «Bom-dia, vizinha», sorri-lhe, como sempre que somos vizinhos, enquanto abria a porta da rua. Acabei os dois primeiros contos de Hernández, Nos tempos de Clemente Colling e O cavalo perdido; se soubesse, tinha trazido mais um. Vou pedir que mos imprimam – continuo sem impressora; é mais saudável para ambos: a floresta e a preguiça – para os ler numa esplanada, de lapiseira em riste a malhar no tradutor. Estou disponível para caminhar na praia; para jantar na tasca ao lado da Florista do Sapal; encerro o mês disponível.

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