22 de abril de 2010

Nem sempre a lápis (7)

Entreguei-me a um regime de café com biscoitos da padaria, pão quente com cavalinhas do Sul, amaciadas com limão e fruta, janelas – portas e portadas de madeira – escancaradas, gaivotas nas varandas e terraços, não necessariamente «em terra» com uma chávena acabada de fazer; «amanhã» faço-me às dunas, por enquanto em casa. Não mandei copiar mais uma vez as chaves; é impressionante o número de objectos reencontrados – o cinzeiro, a caneca de esmalte azul, a fruteira de louça da feira – e não acartarei para me ser concedida a virtude da reconciliação, sem regresso.

Enquanto fazia um café, só hoje me chamou a atenção o aviso – «NÃO ACENDER» seguido pelo consequente «PERIGO DE EXPLOSÃO» – muito bem escrito; a esferográfica numa folha pautada, colada com fita prateada a tapar a janela do piloto do esquentador. Não foi o risco de tomar duche que me ocupou, mas a convicção de Felisberto Hernández ser o Marcel Proust de Montevideu, à medida que vou avançando na tradução de Contos Reunidos. Como não li o clássico francês, justifico a pertinência da convicção pelo anonimato do sul-americano.

No Sul pouco se nota, mas a hora mudou; é significativo distanciar.

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