4 de outubro de 2012

Papiro do dia (265)

«HOW TO BE ALONE (Catarina Barros)

não foi em Kalkbreite nem sequer em Lochergut
mas na Zähringerstrasse, junto à biblioteca. vinha
de uma dessas avenidas que há em todas as cidades
onde lojas de moda convivem com livrarias, casas
de chocolates e um grupinho de punks

na memória uma ideia de pássaro, meu atributo
e uma gratidão quase solene

à minha volta os homens pousavam no lugar vazio
da imaginação e eu olhava, nunca mais de três segundos
a fim de manter o anonimato

a felicidade era as palavras de um poeta
no balcão da despedida: “a Dickinson tem um verso
sobre Zurique que não é triste”

era a Europa de ipod nas orelhas, era eu peninsular
agora ilha desconsolada com aquele livro compelling
and invigorating (cf. Times), no fundo, era
essa missa de corpo presente onde nenhum
pater me levava pela mão

rapariga sem flor na transparência da língua


SKEUOMORPH [Épica] (Paulo Tavares)
4. Se é de eras glaciares e dos grandiosos elementos à escala humana que falamos – o homem como medida de todas as coisas, ou: não estando à altura das coisas que lhe seriam equivalentes –, o aluno aplicado procurará sempre as crateras dos meteoritos, a evidência dos terramotos, o rasto da humanidade perdida. Tentará encontrar, em cada laje dos cemitérios, o nome dos antepassados, para que, em esforço, mas com o alento das origens, os possa inscrever numa qualquer nova modernidade. Desconhecerá, todavia, que, quando revolvidos, os cemitérios são já campos de cultivo.»
[Quinteto (Catarina Barros, Tatiana Faia, Maria João Lopes Fernandes, Frederico Pedreira, Paulo Tavares); Artefacto, 2012]

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