11 de setembro de 2013

Nem sempre a lápis (392)

Longe do mundo
 
Esta cidade é um mapa da memória: os rostos sobrepõem-se, as vozes atropelam-se, os gestos entrelaçam-se.
É-nos recusado o anonimato, e dificilmente a tarde encontra um jardim para esperar pela noite.

Só as paredes e as árvores reconhecem as ruas, onde nos repetimos sonâmbulos de cansaço.
 
 
Outrora as estações tinham luz e cheiro. A cal apaziguava o granito
e a fruta antecipava o crepitar das searas nas eiras. O calor do pão e a embriaguez.

As azinheiras empalidecem na paisagem
como uma fotografia lançada ao vento.
 
[Longe do mundo; frenesi 2004]

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