«Sou o único a preocupar-me com o itinerário. Os marinheiros esses, continuam a viver e a jogar aos dados como se nada lhes dissesse respeito. Será por causa do gosto da aventura? Não, não é por isso. Não têm ninguém, não pertencem a nenhuma terra, eis tudo. O seu mundo é o convés do Zeta e o porão sufocante onde dormem de noite. Olho para estes rostos fechados, queimados pelo sol e o vento, semelhantes a calhaus polidos pelo mar, e como na noite da partida sinto a mesma inquietação surda, irracional. Estes homens pertencem a outra existência, a outro tempo. Mesmo o capitão Bradmer e o timoneiro estão com eles, do seu lado, também indiferentes ao lugar, aos desejos, a tudo o que me preocupa. Os seus olhos têm a dureza metálica do mar, o seu rosto igual lisura.»
[J. M. G. Le Clézio, O caçador de tesouros; trad. Ernesto Sampaio, Assírio & Alvim, Abril 1994;
adamastor]
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