3 de dezembro de 2011

Papiro do dia (156)

«Na sua opinião, o campo está a mudar-se inexoravelmente para a cidade. Em breve haverá novamente gado em Rondesbochar Common; em breve a história completará o seu círculo.
Portanto, encontra-se em casa outra vez. Não sente que esteja a regressar a casa. não se consegue imaginar a viver novamente em Torrance Road, à sombra da universidade, esgueirando-se como um criminoso, evitando os antigos colegas. Terá de vender a casa, mudar-se para um apartamento mais barato.
Tem as finanças num estado caótico. Não paga qualquer conta desde que partiu. Vive do crédito; mais dia menos dia, o crédito acabará.
O fim da vida errante. O que se segue à vida errante? Imagina-se de cabelo branco, ombros alquebrados, a arrastar os pés até à mercearia da esquina para comprar meio litro de leite e meio pão; imagina-se sentado à secretária sem inspiração num quarto cheio de papéis amarelecidos, à espera que a tarde se extinga para poder fazer o jantar e ir para a cama. A vida se um erudito obsoleto, sem esperança, sem expectativas: estará preparado para isso?»
[J. M. Coetzee, Desgraça; trad. José Remelhe, BIIS, Setembro 2010;
bigodaça portugaise

1 comentário:

F disse...

um verdadeiro grego!