4 de novembro de 2013

Nem sempre a lápis (449)

Memória descritiva
Deus
 
Às vezes arrepia-me nunca ter desejado a morte do pai.
Ou levantado os olhos para interrogar Deus.
Arrepia-me, é uma forma de dizer, porque essas preocupações nunca me maquilharam a angústia.
Ou assanharam qualquer espécie de revolta.
O meu olhar ocupou-se sempre muito mais com a linha do horizonte, e não me lembro de levantar ou baixar os olhos.
Desconheço e, francamente, não me interessa o destino do pai.
Como nunca me preocupou a origem de Deus.
Este autismo – ou ignorância, que me tem oposto a conceituadas arrogâncias – alimenta-me a vagabundice intelectual.
Liberdade que nunca consentiria trocar por qualquer especialização.
Ou insónia.
Talvez essa indiferença me tenha custado o lugar reservado pela minha geração.
Para que me sentisse solidário e acompanhado na angústia.
Que ambas lhes façam bom proveito.
E ainda melhor uso pelos filhos.

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