23 de novembro de 2013

Nem sempre a lápis (456)

Memória descritiva
Ilha
 
Alcancei-a do ar, ao fim de Maio.
Como um Ícaro fundido pelo lusco-fusco do verde, estatelava-me irremediavelmente no arquipélago.
Um pé numa rua de Coimbra, homónima, outro algures nos Açores.
Durante anos, a palavra ilha serviu-me de argumento para as mais desconcertantes desculpas.
A poesia ainda hoje é uma boa desculpa, e as minhas tentativas de aproximação à ilha, até se manifestavam nas opções do tabaco.
Essa pequena Ilíada.
Finalmente, eu tinha uma ilha sob os meus pés, e não sabia o que fazer com ela.
Nem vislumbrar-lhe os limites do mar, encandeado pelas decorações do Divino Espírito Santo.
Só no dia seguinte, quando a cabeça de uma vaca se intrometeu entre a janela aberta do quarto e o mar, eu percebi que estava entregue à sorte dos mistérios, no Atlântico.
Desci aos Fenais da Luz para apanhar a carreira, e não descortinei atlantes entre os rostos basálticos da taberna.
Em contrapartida, a carreira foi arrebanhando estudantes saídos das canadas, acompanhada sempre pelo voo rápido dos canários, que desviavam o curso à vista da cidade.
Permanecem iletrados, suponho.

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