8 de novembro de 2013

Nem sempre a lápis (451)

Memória descritiva
Farol
 
Eu não sabia que eles formavam um colar de sentinelas.
A costa era uma linha adivinhada nas leituras que me roubavam o sono, sem que qualquer luz me iluminasse a insónia.
À distância, parecia-se com a chaminé da serração.
Vestida com calças de palhaço, às listas vermelhas e brancas.
Perfilado sobre a distância que me separava do mar, o imponente farol substituía o fumo por um dardo de luz.
Circular e intermitente.
Como uma sentinela que vigia intrusos.
Encandeava as intenções de abordagem, sem lhes dar a oportunidade de senha e contra senha.
Durante anos, o farol significou apenas a presença de um faroleiro - com barbas e cachimbo - que se calhar nos vigiava também a sorte aos caranguejos.
E deveria gozar com a nossa falta de jeito para apanhar os que vinham agarrados à boneca de bacalhau que os alimentava.
Era a nossa tarefa sobre a praia: alimentar caranguejos a bacalhau, vigiados por um faroleiro de barbas e cachimbo.
Nunca me ocorreu que alguém pudesse ser salvo pela luz.
Muito menos a que jorrava de uma chaminé com calças de palhaço.

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