«Descobre no youtube um juvenilíssimo Bob Dylan a cantar com Johnny Cash That’s allright Mama, e observa, com um misto de surpresa e de curiosidade, que o consagrado Cash está ali a cantar com ar de resignação, como se naquele dia não tivesse outro remédio do que aceitar a repentina companhia do desconhecido jovem génio, que tinha saltado para o palco sem licença de ninguém.
Riba observa que Cash não se incomoda com a presença do juvenilíssimo Dylan ao seu lado, mas mesmo assim talvez se esteja a perguntar por que é que tem de cantar acompanhado do jovem génio que se colou a ele. Acaso o pequeno Dylan pretende converter-se no seu anjo da guarda? É, talvez, Dylan um repentino guardião das criações de Cash?
Acaba por pensar que algo parecido se passa entre ele e Nietzky, que durante meses confundiu com o génio que procurava entre os escritores jovens. Depois, quando compreendeu que tinha um grande talento mas não era o escritor tão especial que gostaria de ter encontrado, resignou-se a vê-lo só como o que era, que já era muito. Não era o grande monstro das letras de que andava à procura como editor, mas nele era possível detectarem-se traços de uma faiscante e criativa electricidade neurótica. Mais que suficiente.»
[Enrique Vila-Matas, Dublinesca; em tradução para a Teorema]
Sem comentários:
Enviar um comentário