28 de julho de 2010

«É bom trabalhar nas Obras» (26)

«Embrenha-se na Crónica de Dalkey, de Flann O’Brien, o que não é mais do que outra forma de se preparar conscientemente para a viagem a Dublin. Além disso, o pub Finnegans, onde Nietzky tem pensado fundar a Ordem de Cavaleiros, fica nessa povoação de Dalkey, a pequena cidade situada a umas doze milhas a Sul de Dublin, na costa.
Da localidade de Dalkey, diz Flann O’Brien: "É um lugarejo peculiar, acocorado, calmo, como que adormecido. As suas ruas, que não o são tão claramente, são estreitas e nelas sucedem-se encontros que parecem acidentais."
Dalkey, localidade de encontros casuais. E também de estranhas aparições. Na Crónica de Dalkey aparece Santo Agostinho vivo e a dar ao rabo, em diálogo com um amigo irlandês. E também aparece James Joyce, que trabalha como empregado num bar turístico de Dublin e recusa-se a ser relacionado com Ulysses, livro que considera "sebento, essa colecção de imundice".
Uma rajada violenta de sono impele-o agora a abanar a cabeça para a frente. E chega-lhe de novo a impressão de estar a ser visto. Celia voltou e não a ouviu entrar? Chama-a, mas ninguém responde. Completo silêncio.
- James?
Bom, não sabe muito bem porque perguntou por James, mas espera bem que não seja precisamente Joyce quem agora ande por aí.»
[Enrique Vila-Matas, Dublinesca; em tradução para a Teorema]

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