29 de julho de 2010

«É bom trabalhar nas Obras» (27)

«Hora: logo a seguir às onze da manhã.
Dia: 15 de Junho de 2008, domingo.
Estilo: Linear. Compreende-se tudo. Conserva um ar familiar com o capítulo sexto de Ulysses, onde encontramos um Joyce lúcido e lógico, que introduz, de vez em quando, pensamentos de Bloom que o leitor segue com facilidade.
Lugar: Dublin Airport.
Personagens: Javier, Ricardo, Nietzky e Riba.
Acção: Javier, Ricardo e Nietzky, que já estão há um dia em Dublin, recebem Riba no aeroporto. A ideia é celebrar amanhã, ao cair da tarde e antes de visitar a Torre Martello, as exéquias fúnebres da galáxia Gutenberg. Onde? Há já uns dias que Riba delegou em Nietzky a decisão, e este pensou, muito acertadamente, que o cemitério católico de Glasnevin – antes, Prospect Cemetery, onde Paddy Dignam é enterrado no Ulysses – poderia ser um lugar adequado. Mas quanto ao funeral, nem Ricardo nem Javier, ainda não sabem de nada. E por não saberem, nem sequer sabem que foram incluídos no informal programa de actividades que Riba e Nietzky andaram a preparar. Por outro lado, os três escritores e amigos de Riba são já, ainda sem que eles o saibam, as réplicas vivas dos três personagens – Simon Dedalus, Martin Cunningham e John Power – que acompanham Bloom no cortejo fúnebre do sexto capítulo de Ulysses. Secreta satisfação de Riba.
Temas: Os mesmos de sempre. O passado já inalterável, o presente fugitivo, o inexistente futuro.»
[Enrique Vila-Matas, Dublinesca; em tradução para a Teorema
foto: Ordem do Finnegans no Bloomsday, Dublín 2010. Antonio Soler, Garriga Vela, Malcolm Otero Barral, V-M, Giralt Torrente, Jordi Soler y Eduardo Lago]

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