«A morte da jovem na serra era uma atrocidade, era uma coisa em que não se podia sequer pensar. Stevenson perguntou-se, culpado: onde estava a novidade saudável, o entusiasmo que lhe preenchera os dias nos primeiros tempos na ilha? Quando voltaria ele a encontrar na imundice e no suor a emoção que agora só lhe era proporcionada pela sua própria imaginação, pelas histórias que ele contava a si mesmo e que por vezes tentava colocar no papel? Agora a realidade reduzira-se a farrapos de lembranças: aquela tarde distante, nas Cévennes, em que ele encontrara dois estranhos demoníacos em Notre-Dame des Neiges; ou a ocasião em que conversaram durante horas a fio com uma mulher gorda e louca no leprosário do padre Damian, perto de Honolulu; ou a noite em San Francisco em que um chinês (culo nome ele não lembrava) o levara a um lugar perto do cais do porto onde lera a sua sorte nas folhas de chá no fundo de uma tigela. A palavra nostalgia (ele havia lido em algum lugar) fora cunhada no século XVII por um estudante alsaciano na sua tese de medicina para se referir à moléstia a que sucumbiam os soldados suíços que se viam longe das suas montanhas nativas. No seu caso, era o contrário: nostalgia era a falta dolorosa que sentia dos lugares que jamais conhecera.»
12 de julho de 2010
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