19 de julho de 2010

Nem sempre a lápis (59)

  Quando comprei Disse-me Um Adivinho, aproveitei a oportunidade da Feira do Livro para trazer também Nova Iorque, de Brendan Behan; estavam na calha, puxados por Cormac McCarthy. Até aqui, tudo bem, tudo natural: na altura, folheei o livro do irlandês; pus de lado Esta Terra Não É Para Velhos, para poder ter longas conversas com Terzani, a descansar durante a demorada expatriação de Hernández para português. Não é a primeira vez que me acontece coincidir ou procurar um determinado livro para acompanhar a tradução de outro; utilizei esse método em Santa Maria do Circo, por exemplo, deleitando-me com a releitura de O Último Leitor. Especialmente, quando David Toscana recorre à mão de Lucio, para o velho bibliotecário impedir a mãe de Babette de atirar o melodrama cirqueiro no deserto mexicano para o quarto das baratas; requinte que me passara despercebido por se tratar de um livro posterior à epopeia do Grande Circo Mantecón. Durante a apresentação do livro, fiz-lhe a pergunta sacramental e respondeu-me com esta previsível e, por isso, desconcertante atitude: «Então, chegou também a vez dele.» Desta vez, o alerta da cinta – Prefácio de Enrique Vila-Matas – estava correcto; não me privo de alimentar a saborosa dúvida se estou a ditar Dublinesca ou a traduzir episódios de Behan, escolhidos por Nietzky, para que Samuel Riba possa editá-los antes de irem em expedição ao Bloomsday.
«Já se sabe como é, acaba sempre por aparecer quem menos se espera.» (Vila-Matas)
 
[foto: passagem de M. C. Escher, captada por Nico]

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