8 de julho de 2011

Nem sempre a lápis (185)

«… complicando logo, que é para depois não causar estranheza:» não há tradução de Vila-Matas que não me desequilibre o orçamento. Compro o possível e apanho à mão, na ânsia incontida de me apoderar do conteúdo que traduzo e fico de rastos; literalmente. A Costa das Sirtes veio na continuação de Dublinesca, mas fui-me abaixo; acabo Perder Teorias e dirijo-me ao sítio certo para levantar Bouvard e Pécuchet, entretanto retomada «a frente de Orsenna». Pedi o livro de Gracq para colher excertos traduzidos por Pedro Tamen; autenticado o que procurava, tenho passado as últimas noites enclausurado na «Sala dos Mapas». Reconheço que a leitura não tem sido estável desde que assimilei Um Outro, sem encontrar os anteriores títulos de Imre Kertész durante o pausado Regresso à Babilónia (David Malouf), com o auxílio de O Ajudante (Robert Walser). Saí Debaixo do Vulcão para atravessar Lisboa à torreira do Sol e apanhar o Elevador da Glória e entrar na Cotovia, sem ver a Maravilhas (a gata). Admito que me tenha apresentado como o ansioso que confirmara a disponibilidade do livro de Flaubert ao telefone, e deu-se. Livro pago, atendi uma chamada no sofá com os olhos a passearem pelo que interessa, as lombadas, e deu-se. «… complicando logo, que é para depois não causar estranheza:» dava viagem como referência para o título de Ruy Duarte de Carvalho que (também) procurava e esqueci, bloqueado com a disponibilidade da feira. [Já se sabe que é a do livro, continua.] Como se fosse lá visitar títulos, mostraram-mos quase todos: revi pastores e papéis de súbditos ingleses em paisagens propícias, acabaram por recorrer ao profissionalismo (e à paciência) de consultar o catálogo para que eu finalmente percebesse: “Viagem Desmedida” é o título de uma crónica de Alexandra Lucas Coelho, palmilhado este tempo desmedido entre a Rua Nova da Trindade e o Príncipe Real. Estava-se lindamente, no jardim: conversas imperturbáveis, o Sol a espreitar as páginas que a brisa tonificante não virava, no saco entreaberto. Não sei se li, se ouvi, se acaba de me ocorrer – o que vem a dar o mesmo –: «Aqueles que por obras vulgares se vão da obsessão da imortalidade libertando.» Confio que as aspas me defendam do plágio; «em promoção».

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