Fui a Lisboa atrás de umas calças; foi assim o ridículo da manhã. Levantei-me estremunhado a calcular que o sino batia as dez, mas foram as nove quando dei com a esplanada exposta à corrente de ar e olhei para o relógio. Desde que retomei o hábito da sacola, para não andar com os bolsos enchumaçados e sentir o corpo arejado, pasmo com o desplante com que frequentadores da esplanada retiram mini portáteis quase do bolso. Há cerca de duas semanas, no encalço de Duarte de Carvalho e passeata revivalista pelo Bairro, vi jeans a 5 € na montra fechada da Casa de Roupa para Homem e Senhora, onde me abastecia de calças de bombazina (verde) no tempo em que frequentava o Camões e as rotativas cantavam. Só tamanho 38, o indicado para me sentir folgado sem o contacto da pele com a fivela do cinto; lamento. O tempo passou, dei as jeans como adquiridas pelo número; houvesse quem lhes subisse a bainha, cinturas destas não se alinhavam à mão. Não sei que raio me deu, ao ponto de sossegar a empregada que não estava em directa. Tomei o pequeno-almoço e levantei-me disparado em direcção às calças, com passagem pelo marco dos Correios. Assomo à passagem de peões para o pátio e vejo o autocarro a arrancar; mas o motorista fez sinal que ia dar a volta ao bairro. Encaminhei o livro para o destinatário, apanhei o autocarro, seguido do metro para o Chiado, furtei-me pelo Camões só com um olho posto nas montras, passei em frente dela, mas condoí-me ao ver fatos de banho e subi até ao antiquário (sempre a mesma bengala), para acabar por descer o passeio e abeirar-me da entrada da loja para o empregado dizer, «Ah, isso desapareceu logo». Um ozono desses mesmo e eu de camisinha de flanela a agasalhar a T-shirt, as esplanadas todas ao Sol, no zénite, fui às mortalhas à Casa Havaneza, desci pelo passeio oposto até à Fnac disposto a endividar-me só por vingança: gamaram-me as jeans, gamo um portátil para andar dentro da sacola e sento-me na primeira esplanada (à sombra) que apareça. O aconselhamento técnico do funcionário congelou o meu arreganhado espírito de vendetta. Agradeci como pude e desci a Rua do Carmo mais aliviado, para me sentar numa das quatro ou seis mesas da Carmelita, equidistante da carripana do faducho e do elevador de Santa Justa, à minha esquerda, e a largueza do Rossio, do lado oposto. Pensei na vida, cheguei a desconfiar que devia ter algum anúncio ou ementa atrás de mim (encostado à montra, se possível), na medida em que fazia sorrir os ranchos e bandos e casos da malta com ar de safari na Cidade Branca. Ainda estou para saber porque é que entrei na Livraria Diário de Notícias, vindo intoxicado de informática da Fnac, onde não me ocorreu procurar o livro de Gonçalo M. Tavares que, creio, reunir títulos editados em menor dimensão. E também o regresso se me ofereceu à mão de semear, em versão de eléctrico para Algés, a deambular por feiras com ciganos e rulotes abrigadas, a ouvir histórias que tardam.
24 de julho de 2011
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