22 de julho de 2011

Nem sempre a lápis (190)

Cheguei a ver o caso mal parado, nos dois últimos meses. Não se fazem sessenta e dois anos como quem faz cinquenta e nove. O fole dentro da carcaça começa a dar de si, quando forçado; desnecessariamente. Fiz o balanço a oscilar e entreguei-me ao trabalho. Só não andei aos papéis porque não tenho impressora. Por outro lado, precisava de recuperar, embora sabendo de outra maneira, o lugar dentro de casa, a ler e a rever no computador; reescrever. Com honestidade e bom senso, eliminei mais de vinte páginas do que dava como meio caminho andado; ficando por casa, escondido na toca. Frequentada a feira duas ou três tardes para inocular a ansiada dose de leitura, sucumbia a uma overdose de bloga, Net e seus derivados. E entre eles, sem paciência para andar de carro, encontrei as botas Sanjo, dei com o concerto dos Dead Combo na ZDB, fui comprar o bilhete para me reencontrar com Al Berto; pela mão de mais. Acabei por não ir a Porto Covo nem a Mortágua, é certo. Mas uma tarde, enchi-me de coragem e fui ao Sargo, à chuva; ontem limpo e com Sol e estacionamento reservado, ao chegar a casa. Desentorpeci a ler mais vezes na esplanada do Café no Chiado, a menos que na concorrência, festiva e turística, haja livraria de porta aberta até mais tarde e maiores motivos. Se tivesse carolo, e tempo, abria uma livraria a partir do Príncipe Real, no Bairro, assistida pela esplanada da leitaria ao lado. Sobrepunha a sala com a rua, e vice-versa, para ouvir música, conversas vadias, trocar livros, não atender clientes nem fornecedores. Traduzi Perder Teorias com o livro aberto na mão esquerda, a bicar o teclado com os dedos da mão direita. Encarei a tradução como transcrição de papiro, alheio, para o blogue. Na última semana, passei a devorar – viajar é mais correcto, venha a interpretação apressada – Duarte de Carvalho. Sem dizer água vai, saí numa bifurcação para escrever um conto, “A mulher descalça”, há meses entupido desde o mote anotado na cama. Ainda hesitei em ir ao São Jorge, com medo de perder o fio à meada; mas estava cá. Tinha o mote agendado para o blogue no dia da apresentação de Nem sempre a lápis, no Bartleby. E é curioso que o Ricardo retribua o convite para assistirmos, na véspera, a um concerto de Baltazar Molina, em Cascais. Estou em pulgas para apanhar o comboio em Algés, sentar-me à janela do lado do rio até ser mar. Esquecido o conto, despedido o livro, regresso a casa e começo Os dias do arco-íris, com que Antonio Skármeta ganhou o Prémio Iberoamericano Planeta-Casamérica, este ano; a meio.

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