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Vir ali a ouvir SRO a dizer coisas assim, que o exaltavam, era uma coisa que só me podia deixar perplexo, aturdido, siderado perante aquela performance de exaltação, furor verbal e embriaguez votiva, ao volante de um jipe e a levantar poeira pelas extensões do norte da Namíbia de tal maneira que tudo aquilo não podia ser dito senão aos berros e ao sabor dos solavancos e das emendas bruscas à direcção do carro, dos buracos e das curvas da picada, a que a condução, no limite da velocidade possível, e sem recurso ao travão, obrigava. Para ele o gosto, manifesto e sem disfarce – a dar-se assim, fácil de ler, a personagem –, de se largar e de alargar-se em pistas, de estradas e de lembranças muito percorridas antes, e em torrentes de fala, cascatas às vezes a que respondia, mais do que ao curso e aos acidentes do caminho, a esforçada caixa de velocidades da viatura, estrondosas acelerações, em segunda ou em terceira, para depois engatar a quarta e o jipe assim dava um salto para a frente e o silvo dos pneus, na areia do chão das chanas, excedia o rumor da carburação e era uma pausa extensa em que assentava a fala, e o pó no ar, à volta, que a fala levantava, e dava tempo ao fôlego para se expandir de novo quando na próxima curva a haver, e a ver-se já, fosse preciso meter outra terceira.»
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