4 de agosto de 2013

Nem sempre a lápis (382)

Sueste
 
4. Enquanto a secura lateja nos eirados, percorridos pelo silêncio das noras e alcatruzes esquecidos nos silvados,
a tarde dobra-se como o ferro nas bigornas, malhado pelo canto das poupas no pinhal.

A memória do homem dispõe os utensílios sobre a terra exangue e nenhuma ave se atreve a riscar o ar contaminado de pólen e de luz,
nenhuma árvore estremece na colina, refém da sesta e da ausência.

Só a cisterna interrompe a distância – aproxima as paredes gretadas, onde amealhava a água sob a sede – os cães espreguiçam-se e amarrotam o manto de pó,
esticam as patas calejadas e voltam a fechar os olhos cor de mel e remela seca.

Ninguém nasce ou morre à hora da sesta,
só a memória vigia os trilhos por onde a morte virá como um vagabundo sequioso,
enquanto puxamos o balde cabisbaixos e a corda nos sulca as mãos envelhecidas.
 

Sem comentários: