«Foi precisamente há cem anos, completados em Outubro passado, que nasceu Rimbaud. Em França, o centenário foi comemorado de maneira espectacular. Convidaram-se escritores famosos do mundo inteiro para a peregrinação a Charleville, berço do poeta. As festividades adquiriram foros de acontecimento nacional. Quanto a Rimbaud, provavelmente deu uma volta na sepultura.
Desde a sua morte que têm sido traduzidas parcelas da volumosa obra de Rimbaud, nas mais variadas línguas, do turco ao bengali. Onde quer que subsista o gosto pela poesia e pela aventura, o nome de Rimbaud constitui palavra passe. Nos últimos anos o culto rimbaldiano ganhou proporções espantosas e a quantidade de publicações dedicadas à vida e obra do poeta aumentam vertiginosamente. Não há outro poeta da era moderna de quem se possa dizer que receba a mesma atenção e a mesma consideração.
Para além de Uma Estação no Inferno e das Iluminações, só um pequeno número de poemas acabou por ser traduzido para a nossa língua. Mesmo essas poucas traduções revelam uma ampla e inevitável variedade de interpretações. Contudo, por muito que o seu estilo e o seu pensamento sejam difíceis e inapreensíveis, Rimbaud não é intraduzível. Mas fazer justiça à obra é problema diferente. Está por aparecer, na língua inglesa, o poeta capaz de fazer por Rimbaud o que Baudelaire fez pela poesia de Poe, ou o que Morel e Larbaud fizeram pelo Ulisses.
Só agora se começa a compreender o que Rimbaud fez pela linguagem, e não apenas pela poesia. E, creio bem, mais os leitores que os escritores.»
[Henry Miller, O Tempo dos Assassinos; trad. Manuela R. Miranda, Hiena Editora, Outubro 1985]
2 comentários:
Tive este mesmo livro que nos mostra e, devo dizer-lhe, não sou uma pessoa menos feliz por tê-lo oferecido, bem pelo contrário.
Hoje deixo-lhe um beijinho repenicado, ok?
Desde que não me embadalhoque as barbas, pensarei no assunto
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