«Poeta na Praça da Alegria:
Não sou infeliz. Não, não me quero matar.
Tenho até uma certa simpatia por esta vida
passada nos autocarros,
para cima e para baixo.
Gosto das minhas férias
em frente da televisão.
Adoro essas mulheres com ar banal
que entram em directo no canal.
Gosto desses homens com bigodes e pulseiras grossas.
Acredito nos milagres de Fátima
e no bacalhau com broa.
Gosto dessa gente toda.
Quero ser um deles.
Não, não guardo nenhum sentido escondido.
Estas palavras, aliás, podem ser encontradas
em todos os números da revista Caras.
A ordem às vezes muda.
Não quero que me façam nenhuma análise do poema.
Não, não escrevam teses, por favor.
Isto é apenas um croché
esquecido em cima do refrigerador.
Obrigado por terem vindo cá para me beijarem o anel.
Obrigado por procurarem a eternidade da raça.
Mas a poesia, mes chers, não salva, não brilha, só caça.»
[Golgona Anghel, Vim porque me pagavam; Mariposa Azual, Julho 2011]
5 comentários:
Adoro essas mulheres com ar banal
que entram em directo no canal.
Gosto desses homens com bigodes e pulseiras grossas.
Acredito nos milagres de Fátima
E nos milagres da Fátima Lopes, mulher com ar banal que nos entra em directo pelo canal.
Conheci Anghel na obra que fez sobre o Al Berto. Mais do que o suficiente para me render.
Tiro-lhe o chapéu.
Usas, Cristina? :P
Não. Mas aqui punha um, dá mais trabalho transportar um tapete vermelho ;)
O Skármeta, lá em baixo, continua em forma.
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