4 de julho de 2010

À mão de ler (49)

«O romance foi recebido com simpatia pela crítica que, com profundidade, o rigor e a sensibilidade que caracterizam o seu lúcido discurso, escreveu:
Gostei muito do livro de Ander. É sobre um rapaz que escreve guiões das coisas que passam no telejornal, na bola, etc. A ideia é original e gostei. Também gostei porque introduz entre os capítulos digamos que uns anúncios de publicidade que nos podem ser úteis no caso nos apetecer comer uma pizza e não conseguirmos encontrar o número de telefone e pegamos no livro e encontramo-lo e enquanto esperamos pela pizza sempre se lêem umas linhas. A linguagem que utiliza é muito rica e variada, abundando os nomes comuns ou substantivos, os adjectivos de modo e os verbos como olhar, dizer, pensar, etc., por exemplo. Também gostei da foto dele, embora me pareça mais velho do que diz. Conheci-o na apresentação do livro e pareceu-me um gajo muito simpático e conversador, que estava de acordo comigo em tudo e depois convidaram-me para jantar e fiquei corado, é verdade. Depois fomos até umas discotecas com gente do mundo das letras. Estivemos ali na maior, embora os calamares me tivessem assentado mal. Análise do conteúdo: de salientar que, como hoje a falta de tempo é um problema de todos e toda a gente anda cheia de pressa para chegar a todo o lado, como o trabalho, a universidade, comer, etc., penso que o livro está escrito aos pedacinhos por causa disso. As personagens são muito reais, possuem muita entidade psicológica, e parecem completamente extraídos da mais crua sociedade. O protagonista é individualista, embora possua bom coração; é sincero, trabalhador, zeloso e gosta de dormir. A sua namorada não aparece muito, mas imagino-a bonita e compreensiva e com os olhos azuis, e creio que é importante para ele. A minha opinião pessoal, em resumo, é que o livro é bastante bom e trata problemas actuais com uma linguagem rica e variada, como referi.
O hispanismo estado-unidense, pelo seu lado, não perdeu tempo a prestar atenção a este romance, que serviria para exemplificar as atitudes de todas as escolas interpretativas, desde as mais tradicionais até às situadas nos extremos pós-estruturalistas, passando pela sociologia da literatura, o marxismo e os chamados Peace Studies. Durante lustros, Ander Alkarria seria chamado de todos os lugares inimagináveis para falar sobre o seu romance. A sua fama começou a decair até ser completamente esquecido quando, enjoado de comparências públicas, coquetéis e universidades de Verão, se dedicou a escrever a sério.»
[Antonio Orejudo Utrilla, Vantagens em Viajar de Comboio; em breve, com a chancela das Edições 70]

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