10 de julho de 2010

Nem sempre a lápis (53)

Aprecio a trama de circunstâncias que acaba por me conduzir à descoberta de um autor. Se procurar «Manguel» no original da tradução de Diário Volúvel, não tenho dúvidas quanto ao número de entradas (ou localizações?) ao longo da biblioteca anotada de Vila-Matas. Na última ida à Teorema, saltou-me aos olhos o novo título de Sebald, ainda em provas, e lembrei-me de ter lido num blogue uma referência a um livro que me despertou a curiosidade confirmada, dois ou três autores depois, pelo novo romance de Alberto Manguel; Todos Os Homens São Mentirosos, é bem verdade e as senhoras então, nem se fala. Coloquei-o no bloco ao lado da cama, a aguardar o que Disse-me Um Adivinho. Aqui há dias – não leio jornais, nem na Net, e creio já ter referido o feito de também não ter televisão nem rádio, há mais de uma década livre de interferências –, durante a consulta do que a Net fornecia para um novo dia, deparei-me com a postagem de uma entrevista de Manguel ao Ípsilon. Repesquei de imediato um excerto ilustrado com a biblioteca do autor, entregue ao cuidado de quem de cuidado. A coisa fez eco, em Vila Real, acabadas três etapas do Diário de Miguel Torga. Esta tarde, enquanto lanchava cedo com uma amiga na esplanada, ela foi à livraria em frente – Obras Completas, tabaco e poesia incluída – e vi-a regressar com Stevenson Sob As Palmeiras, edição ASA de Junho de 2003, saldado por dois euros e meio.

São 74 páginas revistas da edição brasileira – samba-se nas entrelinhas – da extinta, suponho, colecção Literatura ou Morte, relativamente breve «ultimato» pela mão de Manuel Alberto Valente, que foi muito mais pródigo a dar-nos Pequenos Prazeres. É um daqueles livros que pertence à estirpe dos que nos lêem num suspiro, aqui entrecortado pela agonia física e como escritor de Stevenson, observada pela lúcida distanciação de Alberto Manguel.

«Somos todos personagens da mesma história, como você mesmo disse uma vez, e os nossos papéis são intermutáveis, até mesmo o papel do contador de histórias.»